Os sintomas vasomotores são os principais responsáveis pela queda da qualidade de vida em mulheres na pós-menopausa e a terapia hormonal da menopausa corresponde ao tratamento mais efetivo. Entretanto, nem todas as mulheres podem fazer uso da terapia estrogênica, outras não toleram pelos efeitos adversos e algumas se recusam a utilizar. Da mesma forma, a THM foi pouco estudada em mulheres mais jovens, no período de perimenopausa. Portanto, é fundamental que novas formas de tratamento sejam investigadas, incluindo também mulheres na perimenopausa.
Recentemente, o FDA aprovou o fezolinetant para o tratamento dos sintomas vasomotores. Mas esta nova opção terapêutica também não foi investigada na perimenopausa. Esta é uma época de muita variabilidade hormonal, em que os níveis de estradiol podem estar, inclusive, elevados. Os ciclos menstruais já podem estar irregulares e os sintomas vasomotores já podem ter início, prejudicando o sono e a qualidade de vida.
O uso isolado de progesterona já foi avaliado para o tratamento dos fogachos, mas, de novo, os poucos estudos se limitaram a mulheres já na pós-menopausa e, mesmo nestas, os resultados foram conflitantes.
Recente estudo, publicado no último mês de junho, teve como objetivo avaliar o efeito da progesterona micronizada isolada sobre os sintomas vasomotores de mulheres na perimenopausa.
O estudo avaliou 189 mulheres, com idade de 35 a 58 anos (média de 49,9 anos), randomizadas para uso de progesterona micronizada 300mg ao deitar ou placebo. A maioria das participantes (63%) estavam na fase de perimenopausa tardia (quando o intervalo entre os ciclos menstruais já era igual ou maior do que 60 dias). Mulheres com história de histerectomia e/ou ooforectomia bilateral foram excluídas.
Para quantificação dos sintomas foi utilizado o escore de sintomas vasomotores. A mudança deste escore em 3 meses de tratamento foi o desfecho primário. Entre os desfechos secundários foram avaliados: os suores noturnos, os fogachos e a qualidade de sono.
Durante os 3 meses de seguimento, houve melhora do escore nos dois grupos, sem diferença estatística entre eles. No entanto, o grupo que fez uso de progesterona micronizada teve redução dos suores noturnos e melhora da qualidade do sono, com significância estatística. Não houve eventos adversos sérios.
Não sabemos ainda se haverá, em algum momento, a inclusão da progesterona micronizada isolada como tratamento dos sintomas vasomotores nas recomendações das principais diretrizes. No entanto, é preciso se atentar que o estudo descrito acima só conseguiu evidenciar melhora dos sintomas noturnos.
Portanto, diante de mulheres na perimenopausa com predominância de queixas noturnas, poderíamos considerar o início de progesterona micronizada, especialmente se houver o temor da THM por parte da paciente ou do médico; ou em casos de intolerância à terapia estrogênica.
Caso optemos por este início, não podemos esquecer que a dose de progesterona micronizada utilizada no ensaio clínico foi de 300mg, superior às doses habitualmente prescritas de 100 ou 200mg/dia. Sendo assim, não podemos afirmar que estas doses menores seriam eficazes.
De qualquer modo, torcemos para que mais estudos realizados na população de mulheres na perimenopausa sejam realizados.