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Diabetes

Sobrepeso e obesidade têm alta prevalência entre jovens com DM1 no Brasil

obesidade infantil
Escrito por Erik Trovao

Embora tradicionalmente conhecido como um tipo de diabetes associado ao eutrofismo, os endocrinologistas têm observado, nos últimos anos, um aumento do número de pacientes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e aumento do peso. E um estudo brasileiro publicado, em janeiro de 2022, no Diabetology & Metabolic Syndrome, veio confirmar sobrepeso e obesidade têm alta prevalência  entre jovens com DM1 no Brasil.

O estudo multicêntrico incluiu 1760 jovens com DM1 de todas as regiões geográficas do país, embora com predomínio se centros do eixo Sul-Sudeste (8 dos 14 centros participantes). E seu objetivo foi determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade e de fatores de risco associados nestes adolescentes e sua associação com retinopatia diabética (RD) e doença renal crônica (DRC).

A média de idade dos indivíduos incluídos foi de 16,4 anos, sendo 50,1% do gênero feminino. A média de idade do diagnóstico foi de 8,9 anos e o tempo médio de duração da doença de 8,1 anos.

Ao todo, 25,9% dos pacientes tinham excesso de peso, tendo 21,5% o diagnóstico de sobrepeso e 4,4% o diagnóstico de obesidade. Foi visto também que, entre estes pacientes, a maioria do gênero feminino, a idade era mais avançada e o tempo de diabetes era maior. Além disso, eles tinham também maior prevalência de fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, dislipidemia (elevação do LDL-c) e síndrome metabólica.

A frequência de acantose nigricans também foi, como esperado, maior entre os pacientes com sobrepeso e obesidade. Porém, embora a dose total de insulina diária tenha sido maior entre estes, a dose total de insulina por quilo de peso foi menor do que no grupo com peso normal. Talvez consequente ao uso adjuvante de metformina em 26,3% dos pacientes acima do peso, o que pode ter levado à redução das necessidades de insulina.

Por outro lado, em relação ao controle glicêmico, não houve diferença entre os dois grupos. A média da hemoglobina glicada (HbA1c), no geral, foi de 9,6% e menos de 20% dos pacientes, nos dois grupos, estavam com a doença controlada (definido como HbA1c < 7,5%).

Este alto índice de descontrole glicêmico entre os adolescentes brasileiros, independente do peso, pode ser consequente às limitações socioeconômicas do país e à falta de acesso a programas de educação em diabetes (a maioria dos pacientes avaliados tinham status econômico classificado como médio ou baixo e faziam uso de insulina NPH, fornecida pelo SUS). Infelizmente, o estudo não pontuou possíveis diferenças geográficas entre os indivíduoss incluídos.

Em relação à presença de RD e de DRC, não houve diferença entre os dois grupos, talvez um reflexo do similar descontrole glicêmico entre eles.

Os resultados apresentados por este estudo alertam para o grave problema de saúde público para o qual os endocrinologistas já vêm chamando atenção nos últimos anos: o aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes; um possível efeito causado pela maior taxa de sedentarismo e piores hábitos alimentares nesta faixa etária.

Uma vez que esta realidade também tem afetado um quarto dos nossos pacientes com DM1, devemos ficar alerta para esta mudança de perfil fenotípico e metabólico nestes pacientes. Ainda não somos capazes de prevenir os mecanismos auto-imunes que levam à destruição da célula beta nos indivíduos com DM1, mas é urgente que medidas de combate ao ganho de peso nesta população sejam instituídos.

Embora ainda não possamos falar em aumento de doença e mortalidade cardiovascular neste grupo de pacientes com DM1 e sobrepeso/obesidade, já podemos identificar uma maior frequência de fatores de risco com este potencial. Que possamos mudar esta realidade antes que o desfecho desfavorável se torne um fato.

 



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Sobre o autor

Erik Trovao

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