A doença renal crônica (DRC) está associada ao aumento da morbidade e mortalidade, incluindo um risco aumentado de falência renal e doença cardiovascular (DCV). Representa uma complicação comum do diabetes mellitus tipo 2 (DM2), afetando cerca de 40% dos portadores dessa condição, e o risco aumenta com a duração do diabetes. A presença de DRC faz com que os custos médios de saúde aumentem em quase 50% em comparação com os custos apenas para aqueles com diabetes.
Os agonistas do receptor de GLP-1 (GLP-1 RA) são um tratamento eficaz para o controle glicêmico e redução de peso em pessoas com DM2 e têm um bom perfil de segurança e tolerabilidade (sendo geralmente eventos adversos gastrointestinais transitórios os mais comuns), inclusive naqueles com DRC. Alguns GLP-1RAs (albiglutida, efpeglenatida, dulaglutida, liraglutida e semaglutida subcutânea) reduzem o risco de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) em pessoas com DM2 com doença cardiovascular estabelecida ou com alto risco de doença cardiovascular.
Além do já reconhecido benefício cardiovascular, metanálises de ensaios de desfechos cardiovasculares, que incluíram >40.000 participantes, sugerem potenciais efeitos protetores renais dos GLP-1RAs, com alguns (liraglutida, dulaglutida, semaglutida e efpeglenatida) associados a reduções nos desfechos renais compostos secundários (macroalbuminúria , perda substancial da função renal, insuficiência renal e morte devido a doença renal. No entanto, estes benefícios foram impulsionados por um menor risco de macroalbuminúria persistente.
Hoje, uma notícia trouxe novas e importantes informações sobre o benefício renal da semaglutida. A farmacêutica Novo Nordisk anunciou os principais resultados do estudo de desfechos renais FLOW, interrompido antecipadamente devido à eficácia. O estudo duplo-cego comparou a semaglutida injetável 1,0 mg com placebo, como adjuvante do tratamento padrão para prevenção da progressão da insuficiência renal e risco de mortalidade renal e cardiovascular em pessoas com DM2 e DRC. O ensaio envolveu 3.533 pessoas.
O ensaio atingiu o seu objetivo primário ao demonstrar uma redução estatisticamente significativa e superior na progressão da doença renal, bem como na morte cardiovascular e renal de 24% para pessoas tratadas com semaglutida 1,0 mg em comparação com placebo. O endpoint primário combinado incluiu cinco componentes que medem a progressão da DRC e o risco de mortalidade renal e cardiovascular. Tanto a DRC quanto os componentes cardiovasculares do desfecho primário contribuíram para a redução do risco. Além disso, a superioridade da semaglutida 1 mg versus placebo foi confirmada para os desfechos secundários confirmatórios.
Ainda devemos aguardar a publicação do estudo completo, analisar a população que mais se beneficiou da droga e as limitações do estudo, mas, uma vez confirmado esse resultado, é provável que tenhamos mudanças nos guidelines para tratamento do DM2, com a inclusão da semaglutida como opção de terapia inicial para pacientes com DM2 e DRC, ao lado dos iSGLT2.