A obesidade é um problema complexo que afeta pacientes de todas as faixas etárias. Atualmente, cerca de um terço dos adolescentes do Brasil apresentam sobrepeso ou obesidade. Mas, não existe um único elemento causador desta epidemia. A obesidade ocorre como consequência de interações complexas entre fatores biológicos, de desenvolvimento, comportamentais, genéticos e ambientais.
As complicações relacionadas à presença da obesidade entre crianças e adolescentes são inúmeras e incluem: disglicemia, hipertensão, dislipidemia, doença hepática gordurosa não alcoólica, apneia obstrutiva do sono e comprometimento da saúde mental. Considerando a gravidade dessas complicações, torna-se evidente a necessidade de uma abordagem que tenha sucesso em alcançar uma perda de peso significativa. Sabemos que as mudanças do estilo de vida, apesar de representarem a primeira linha de tratamento voltado para perda de peso, possuem resultados modestos, com frequente falha na manutenção do peso perdido a longo prazo.
Neste mês de novembro foi publicado o STEP TEENS, um estudo fase 3 no qual a semaglutida subcutânea 2,4 mg (Wegovy) foi utilizada em adolescentes com idade de 12 a < 18 anos, apresentando obesidade. Trata-se de um estudo multinacional, duplo cego e controlado por placebo realizado entre outubro de 2019 e março de 2022. Os participantes foram randomizados para uso de placebo ou semaglutida semanal com dose titulada até 2,4 mg ou até a dose máxima que não causou eventos adversos inaceitáveis. O desfecho primário foi a alteração percentual no IMC, e o desfecho secundário confirmatório foi uma redução no peso corporal de pelo menos 5%.
Ao término período de estudo de 68 semanas, a mudança média no IMC da linha de base até a semana 68 foi de -16,1% entre aqueles que receberam semaglutida 2,4 mg e 0,6% entre aqueles que receberam terapia com placebo (diferença estimada, -16,7 pontos percentuais [ 95% CI, -20,3 a -13,2]; p <0,001). Ao avaliar o desfecho secundário de interesse, os pesquisadores descobriram que 73% do grupo semaglutida experimentaram uma perda de peso de 5% ou mais em comparação com apenas 18% daqueles randomizados para placebo (OR, 14,0 [IC 95%, 6,3 a 31,0]; p <.001). Uma análise mais aprofundada dos resultados da perda de peso sugeriu que uma perda de peso de 20% ou mais ocorreu entre 37% dos adolescentes que receberam semaglutida em comparação com apenas 3% que receberam terapia com placebo. Os pesquisadores também observaram outros benefícios aparentes do uso de semaglutida como melhora nos fatores de risco cardiometabólicos, incluindo redução da circunferência da cintura, níveis de hemoglobina glicada, lípides e alanina aminotransferase.
Como esperado, o perfil de segurança da semaglutida entre adolescentes com obesidade foi consistente com o observado entre adultos. Eventos adversos foram relatados em 105 de 133 participantes (79%) no grupo semaglutida e em 55 de 67 (82%) no grupo placebo. Distúrbios gastrointestinais (principalmente náuseas, vômitos e diarreia) foram os eventos adversos mais frequentes com semaglutida (ocorrendo em 62% dos participantes, em comparação com 42% no grupo placebo) e foram geralmente leves ou moderados em gravidade e de curta duração (duração mediana, 2 a 3 dias para náuseas, vômitos e diarreia no grupo semaglutida).
Não há dúvidas se que os resultados são bastante animadores. Fica a torcida para que tenhamos em breve a semaglutida 2,4 mg aprovada para tratamento de adolescentes e adultos com obesidade aqui no Brasil.