O sobrepeso e a obesidade são fatores de risco bem estabelecidos para diversas comorbidades, incluindo diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, doença hepática esteatótica e disfunções do sistema reprodutivo. O hipogonadismo masculino secundário relacionado à obesidade (MOSH) é uma condição bem caracterizada, cuja fisiopatologia envolve uma interação complexa entre adiposidade visceral, leptina e resistência à insulina (RI), resultando em disfunção hipotalâmica.
Nas mulheres, a obesidade está associada a um aumento dramático na frequência de irregularidades menstruais. Mulheres com obesidade aos 23 anos de idade têm uma probabilidade 1,97 vezes maior (IC 95% 1,19-2,57) de distúrbios menstruais, independentemente do seu índice de massa corporal (IMC) anterior durante a infância. Observa-se uma diminuição dos níveis de hormônio luteinizante (LH) em mulheres portadoras de obesidade, com e sem síndrome dos ovários policísticos (SOP). Os níveis reduzidos de LH são em parte devidos ao aumento da depuração de LH endógeno, bem como à redução da resposta hipofisária ao hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH).
Os andrógenos, por sua vez, estão elevados em mulheres com obesidade, mesmo que não tenham SOP. Em um estudo transversal envolvendo 1.900 mulheres na pré-menopausa com obesidade grave, a hiperandrogenemia estava presente em 32% (n = 616) das mulheres com obesidade sem SOP e em 45% (n = 845) das mulheres com obesidade e SOP. Níveis marcadamente elevados de andrógenos podem contribuir para níveis reduzidos de LH, contribuindo para o hipogonadismo feminino.
O hormônio anti-Mülleriano (AMH) é considerado um marcador substituto da reserva ovariana e da fertilidade. O impacto da obesidade no AMH permanece obscuro. Alguns estudos relataram que o AMH se correlaciona negativamente com o IMC no entanto, outros não mostraram nenhuma mudança.
Dessa forma, é necessária uma avaliação completa da função endócrina reprodutiva em mulheres com obesidade e hipogonadismo para diferenciar aquelas com SOP daquelas com hipogonadismo secundário relacionado à obesidade. É possível que a persistência do aumento da frequência de pulso de LH possa ser usada para identificar a SOP subjacente, em vez do hipogonadismo relacionado à obesidade. No entanto, a avaliação dos níveis de LH não constitui ainda uma parte importante da avaliação atual das mulheres com possível diagnóstico de SOP.
Referência:
Pei Chia Eng, Maria Phylactou, Ambreen Qayum, Casper Woods, Hayoung Lee, Sara Aziz, Benedict Moore, Alexander D Miras, Alexander N Comninos, Tricia Tan, Steve Franks, Waljit S Dhillo, Ali Abbara, Obesity-Related Hypogonadism in Women, Endocrine Reviews, Volume 45, Issue 2, April 2024, Pages 171–189.