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Tireoide

Você já ouviu falar na levotiroxina líquida?

Escrito por Erik Trovao

Embora ainda não disponível no Brasil, o FDA já aprovou duas preparações de levotiroxina líquida para tratamento do hipotireoidismo. São soluções salinas de administração oral que apresentam bioequivalência quando comparados com a levotiroxina oral. São duas as apresentações encontradas no mercado estadunidense: o Thyquidity e o Tirosint-SOL.

O primeiro é uma solução de 100 mcg de levotiroxina em 5 ml (20mcg/ml). Uma caixa vem com dois frascos, cujo conteúdo deve ser, diariamente, aspirado com uma seringa de acordo com a dose prescrita.

Já o Tirosint-SOL parece ter uma apresentação de melhor comodidade posológica.  São 15 diferentes dosagens disponíveis: as doses usuais de 25 a 200mcg e ainda outras doses como 13 e 44 mcg. Cada caixa vem com 30 ampolas. O conteúdo de cada ampola deve ser, diariamente, adicionado em um copo d’água ou administrado diretamente na boca.

Embora aprovados para uso em jejum, 30 a 60 minutos antes do café da manhã, evidências mais recentes têm sugerido que as soluções orais poderiam ser ingeridas junto com a refeição ou com café, o que facilitaria bastante o tratamento daqueles indivíduos que não se adaptam à recomendação de jejum.

Estudo publicado na Thyroid mostrou que não houve diferença na farmacocinética do Tirosint-SOL quando foram comparadas a ingestão de 600 mcg da solução antes de 30 minutos de uma refeição rica em gordura com a ingestão antes de 15 minutos.

dois trabalhos apresentados no ENDO 2022, congresso da Endocrine Society, neste mês de junho, demonstraram resultados similares para o Thyquidity. Em um deles, 40 indivíduos, após 10 horas sem se alimentar durante a noite, foram randomizados para receber 600 mcg da solução em jejum ou 5 min antes de ingerir uma xícara de café (sem leite ou adoçantes). Nenhuma diferença foi observada nos níveis séricos de T4 atingidos.

No outro estudo, 38 indivíduos foram randomizados para receber a solução 30 ou 10 minutos antes de uma refeição rica em gordura. Novamente, nenhuma diferença foi encontrada na elevação sérica dos níveis de T4.

Embora os resultados dos estudos sejam animadores, percebe-se que são estudos pequenos e realizados com uma alta dose de levotiroxina. Para doses menores, será que os resultados seriam similares? Desta forma, a orientação é de ainda seguir a recomendação em bula aprovada pelo FDA, respeitando assim o jejum de 30 a 60 minutos. E aguardar para ver se os produtores das soluções orais entrarão com pedido de revisão desta prática junto ao órgão.

Vale ressaltar que, no Brasil, ainda não há registro de nenhuma apresentação de levotiroxina líquida junto à ANVISA. E realizar a prescrição de forma manipulada não é recomendada, uma vez que não há como garantir a bioequivalência com as preparações orais disponíveis no mercado.

Outra preocupação é o custo. Mesmo nos Estados Unidos, as duas soluções disponíveis são muito mais caras do que as apresentações orais. Caso chegue ao nosso país, espera-se, portanto, que a enorme diferença de custo seja também uma desvantagem. Resta, então, aguardar para saber se a levotiroxina líquida realmente terá a vantagem de não necessitar de jejum, para realmente começarmos a torcer por sua chegada em terras brasileiras.



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Sobre o autor

Erik Trovao

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