A metformina não é a primeira escolha para tratamento da hiperglicemia na gestação. Apesar disso, seu uso pode ser considerado em situações específicas, como já comentamos por aqui. Uma dessas situações são os casos de mulheres grávidas portadoras de diabetes mellitus tipo 2, principalmente se estiverem evoluindo com ganho de peso excessivo ou ganho de peso fetal excessivo.
Uma das preocupações com o uso da metformina na gestação baseia-se nos resultados do estudo MiTy (Metformin in Women With Type 2 Diabetes in Pregnancy), no qual mulheres com DM2 na gravidez foram randomizadas para tratamento com metformina ou placebo, além de seu regime usual de insulina. O estudo MiTy encontrou vários benefícios maternos e neonatais no grupo da metformina, como menor ganho de peso gestacional, necessidade reduzida de insulina durante a gravidez e redução da macrossomia (peso ao nascer >4 kg). Apesar disso, houve um aumento no percentual de bebês que eram pequenos para a idade gestacional (PIG) (peso ao nascer <10%) (12,9% vs. 6,6 %).
Foi publicada recentemente uma análise secundária do MiTy, que utilizou regressão logística para tentar identificar os fatores preditores de PIG naquelas participantes em uso de metformina. As características maternas basais foram semelhantes entre as mães sem PIG e aquelas com PIG, com exceção da hipertensão crônica e nefropatia diabética, que foram significativamente mais comuns nas mães que deram à luz PIG (hipertensão crônica 37,8% vs. 16,6% ; p = 0,001 e nefropatia diabética 15,6% vs. 5,3% ; P = 0,018). O risco absoluto de PIG foi muito maior em mulheres que receberam metformina com comorbidade em comparação com mulheres que receberam metformina sem comorbidade (25,0% vs. 9,8%).
Sabe-se que lactentes PIG apresentam maior risco de mortalidade e morbidade perinatal adversa, como doença pulmonar, hipotensão, enterocolite necrosante, má termorregulação, hipoglicemia e policitemia. Além disso, a longo prazo, bebês PIG apresentam risco aumentado de doenças crônicas, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares e doenças renais crônicas. Sendo assim, com o objetivo de reduzir os nascimentos PIG, deve-se ter cautela com uso de metformina em pacientes com diabetes tipo 2 e hipertensão crônica ou nefropatia na gravidez.
Vale lembrar que, considerando o efeito da metformina sobre o crescimento fetal, a atual diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes já contraindica o uso da droga nos casos de feto abaixo do percentil 50, presença de crescimento intrauterino restrito ou gestante com doença renal crônica. Presença de hipertensão ainda não faz parte da lista de contraindicações do guideline.