A presença de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) tem sido associada a um risco aumentado de demência, como demonstrado em uma metanálise de estudos prospectivos publicada em 2013, que demonstrou um aumento de risco de doença de Alzheimer de 56% e de demência vascular de 127%. Neste contexto, alguns estudos observacionais têm sugerido que o uso de metformina pode proteger contra o risco de demência, mas não sabemos se este efeito estaria relacionado ao controle glicêmico ou a mecanismos intrínsecos à medicação.
Na tentativa de trazer mais luz a esta questão e eliminar os fatores confundidores relacionados ao próprio controle glicêmico, estudo publicado no JAMA Network neste mês de outubro, avaliou se a suspensão da metformina em indivíduos com DM2 por razões não relacionadas à disfunção renal esteve associada com uma incidência maior de demência e se esta possível associação foi mediada pelo nível da hemoglobina glicada (HbA1c) ou pelo uso de insulina.
O estudo foi uma coorte que incluiu 12.220 indivíduos com DM2 que suspenderam precocemente a metformina, mas que tinham taxa de filtração glomerular normal e os comparou com 29126 indivíduos que mantiveram a metformina. No primeiro grupo, a média de idade foi de 59,4 anos e 46,2% eram do gênero feminino e os participantes foram pareados para idade, gênero e duração de diabetes com o outro grupo.
Ao final do estudo foi visto que aqueles que suspenderam precocemente a metformina tiveram um risco 21% maior de desenvolver demência comparado ao grupo de indivíduos que mantiveram a droga. E este achado foi independente dos níveis de HbA1c e do uso de insulina, eliminando o controle glicêmico como possível fator confundidor.
O estudo, portanto, corroborou os dados de estudos observacionais que já sugeriam que a metformina seria protetora para o desenvolvimento de demência. Isso reforça a necessidade de insistirmos com o uso da metformina especialmente naqueles indivíduos com alto risco de demência (como aqueles com história familiar), procurando estratégias para reduzir os efeitos adversos gastrointestinais (principal motivo para interrupção da droga).