Tireoidite de Hashimoto
A Tireoidite de Hashimoto (TH) é uma doença crônica autoimune caracterizada pela destruição da glândula tireoide por processos imunológicos mediados por células e anticorpos. É a causa mais comum de hipotireoidismo nos países desenvolvidos. Em contraste, em todo o mundo, a causa mais comum de hipotireoidismo é a ingestão inadequada de iodo na dieta. A TH também é conhecida como tireoidite autoimune crônica e tireoidite linfocítica crônica. Os achados laboratoriais mais comuns demonstram níveis elevados de hormônio estimulador da tireoide (TSH) e baixos níveis de tiroxina livre, juntamente com aumento de anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO).
O papel do selênio
Vários oligoelementos são essenciais para o funcionamento normal da tireoide, havendo então um interesse crescente na sua suplementação para o tratamento da TH, em particular na prevenção do hipotiroidismo. Além do iodo, um dos candidatos mais discutidos é o selênio. Os níveis de ingestão desse oligoelemento variam de acordo com a região e são influenciados pelo teor de selênio no solo e pela disponibilidade de selênio na cadeia alimentar, entre outros fatores. Carnes e frutos do mar são fontes comuns de selênio, seguidos por cereais e grãos. A dose diária recomendada de selênio varia entre 55 e 70 mg para adultos não gestantes, o que muitas vezes não é alcançado, especialmente na Europa e em algumas partes da China.
O que há de novo nas pesquisas sobre o tema?
Agora em 2024, foi publicada na revista Thyroid uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados (ECR) que investigaram o efeito da suplementação de selênio na TH, com especial atenção à função tireoidiana, anticorpos tireoidianos, achados ultrassonográficos, marcadores imunológicos e segurança. A hipótese era que as análises de subgrupos ajudariam a definir indicações para benefícios potenciais.
A análise mostrou que a suplementação de selênio está significativamente associada à diminuição do TSH em pacientes que não foram tratados com levotiroxina. Benefício associado à reposição de selênio também foi observado independentemente de os pacientes estarem em uso de levotiroxina em termos de diminuição dos anticorpos antiperoxidase (SMD, -0,96 em 29 coortes, envolvendo 2.358 participantes).
No geral, a suplementação de selênio não teve efeitos significativos em outras medidas, incluindo T4 livre, T4 total, T3 livre, T3 total, anticorpo anti-tireoglobulina, volume da tireoide, interleucina 2 ou interleucina 10. É importante ressaltar que não foram observadas diferenças significativas em termos de efeitos adversos entre os grupos de intervenção e de controle dos estudos em doses de suplementação de selênio variando de 80 a 400 μg/d por até 12 meses.
Vale lembrar que a ingestão excessiva de selênio pode ser prejudicial, com sintomas de toxicidade aguda (por exemplo, manifestações gastrointestinais e neurológicas) ocorrendo tipicamente em doses de 300 a 400 mg/dia. Além disso, um ensaio clínico já levantou preocupações de que a suplementação prolongada de selênio de 200 mg/dia poderia aumentar a incidência de diabetes mellitus tipo 2.
Aguardaremos estudos futuros que incluam a avaliação dos níveis de selênio durante o estudo, estratifiquem os dados por sexo, status de selênio e status da função tireoidiana e forneçam valores de referência claros para todos os parâmetros.
Referência: Thyroid®