Nas últimas décadas, pudemos observar diversos avanços no tratamento do diabetes tipo 1 (DM1). Novos análogos de insulina, canetas inteligentes, monitores contínuos de glicose (CGM), bombas e sistemas híbridos de circuito fechado vem mudando a forma de lidar com o DM1. Apesar de todos esses avanços, o controle glicêmico adequado permanece ainda como um grande desafio para a maioria dos pacientes.
A crescente frequência de características da síndrome metabólica em pacientes com DM1, tem recebido atenção significativa nos últimos anos. Nos EUA, foi relatado que a prevalência de obesidade entre crianças com DM1 aumentou três vezes (de 12,6 para 36,8%) entre as décadas de 1980 e 1990. No curso subsequente do DM1, o ganho de peso é um problema importante. Na medida em que determina maior resistência a ação da insulina, o excesso de gordura corporal impõe a necessidade de maiores doses para o controle glicêmico adequado, com consequente repercussão negativa na composição corporal, fechando um ciclo vicioso extremamente deletério para essa população. Na busca de uma intervenção que interrompa esse ciclo, os agonistas do GLP1 (aGLP1) despontam como uma possibilidade.
Os aGLP1 exercem seu efeito estimulando a secreção de insulina de forma glicose-dependente, retardando o esvaziamento gástrico, com menor liberação de glucagon e redução do apetite mediada por sua ação em núcleos hipotalâmicos. Nos estudos de desfechos cardiovasculares, liraglutida, semaglutida, albiglutida e dulaglutida demonstraram eficácia na redução de eventos. Em pacientes com obesidade e sem diabetes, a semaglutida alcançou uma redução de 20% no risco de novos eventos. Dessa maneira, a classe vem ganhando destaque tanto no tratamento do diabetes, quanto da obesidade. Entretanto, seu uso em pacientes com DM1 ainda e controverso.
Buscando agregar dados ao tema, um estudo recém publicado na revista Diabetes, Technology & Therapeutics, avaliou retrospectivamente o uso da semaglutida em pacientes com DM1 que apresentavam concomitantemente sobrepeso ou obesidade. Foram avaliados 50 pacientes com DM1 que fizeram uso de semaglutida com doses semanais de ate 1mg, adicionada a seu esquema habitual por 12 meses, sendo comparados a um grupo com características clinicas semelhantes que se manteve em insulinoterapia intensiva. A semaglutida levou a uma redução significativa de 8,7% no peso corporal, com melhora nos níveis de HbA1c e reduçao na variabilidade glicêmica avaliada pelo time in range (TIR).
Dados anteriores já demonstraram benefícios no uso do aGLP1 em indivíduos com DM1. Estudo recente publicado na NEJM acompanhou 10 pacientes com diagnostico recente por 12 meses demonstrando preservação de secreção insulínica. Outro estudo publicado na JCEM acompanhou 76 pacientes com DM1, em uso de aGLP1. Após 1 ano de tratamento, o grupo em aGLP1 apresentou reduções significativas de peso (90,5 kg a 85,4 kg; P < 0,001), hemoglobina glicada A1c (HbA1c) (7,7% a 7,3%; P = 0,007) e dose total diária de insulina (61,8 unidades a 41,9 unidades; P < 0,001). No programa ADJUNCT, mais de 2000 pacientes com DM1 foram acompanhados em uso de liraglutida por até 52 semanas. A intervenção levou a reduções significativas na HbA1c, nas doses de insulina e no peso corporal, porém com taxas mais elevadas de hipoglicemia e cetose, especialmente nos grupos com doses mais elevadas.
Considerando o crescimento da prevalência de sobrepeso e obesidade, particularmente em indivíduos com DM1, podemos assegurar a grande importância de se avaliar a segurança e a eficácia de medidas que possam ajudar no controle do peso corporal nessa população. Agonistas de GLP1 despontam como medicações promissoras, entretanto dados derivados de estudos prospectivos e randomizados ainda são escassos, não permitindo uma recomendação para seu uso.