A osteoporose é definida como a redução da massa óssea associada a um deterioramento da microarquitetura óssea. A densitometria óssea (DXA), exame de escolha para o diagnóstico da doença, consegue avaliar apenas a massa óssea (através da medição da densidade mineral óssea), mas não fornece informações sobre a microarquiotetura do esqueleto. O trabecular bone score (TBS) é um método complementar à DXA que resolve, em parte, este problema, uma vez que fornece uma mensuração indireta da microarquitetura.
O cálculo do TBS é realizado a partir de um software adicionado ao sistema da DXA que utiliza os dados derivados da coluna lombar para gerar um índice textural formado por pixels em tons diferentes de cinza. Quanto mais pixels em tons escuros, menor o valor do TBS e mais deteriorado está o tecido ósseo.
Segundo um update publicado em 2023 na Osteoporosis International (e com a participação da International Ostoeporosis Foundation), o TBS é preditivo do risco de fraturas de fragilidade tanto em mulheres na pós-menopausa como em homens a partir dos 50 anos de idade, independentemente da densidade mineral óssea (DMO) obtida pela DXA e do cálculo do FRAX. Inclusive, o valor do TBS pode ser utilizado para ajustar o risco de fraturas calculado pelo FRAX nesta população.
Não à toa, a The International Society For Clinical Densitometry (ISCD), em seu posicionamento oficial atualizado agora em 2023, orienta que o TBS deve ser utilizado para ajustar o risco de fratura, quando estiver disponível. Inclusive, a maior utilidade do TBS parece ser naqueles pacientes que estão com risco de fratura próximo ao limiar de intervenção, uma vez que, nestes casos, a correção do risco utilizando o TBS pode mudar a estratificação de baixo para alto risco.
Embora não exista um consenso sobre os pontos de corte do TBS a serem utilizados, alguns autores orientam a seguinte classificação de acordo com o seu resultado:
- Alto risco (ou degradada): 1,200
- Risco intermedriário (ou parcialmente degradada): entre 1,200 e 1,350
- Baixo risco (ou normal): 1,350
Outros autores sugerem os pontos de corte de 1,230 e 1,310.
O uso do TBS também parece ser útil nos pacientes com osteoporose secundária. Em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 (DM2), por exemplo, este método encontra uma das suas principais utilidades. Afinal, a medida da DMO pela DXA nestes casos falha em determinar o verdadeiro grau de deterioramento ósseo.
Pacientes com DM2 possuem DMO igual ou até superior a pacientes sem DM2, embora o risco de fraturas seja bem mais alto. Isto ocorre porque, embora ocorra importante prejuízo da microarquitetura óssea no DM2, a DMO não consegue quantificar esta alteração, o que pode ser parcialmente resolvido pelo uso do TBS. E as evidências têm comprovado que o TBS é preditor do risco de fraturas de fragilidade no DM2, independentemente da DMO e do FRAX.
Há também estudos avaliando a utilidade do TBS em outras causas de osteoporose secundária. E esta ferramenta também tem sido considerada preditiva do risco de fratura, independentemente da DMO, na doença renal crônica, na artrite reumatoide e em pacientes em uso de corticoterapia crônica.
Vale ressaltar, no entanto, que a ISCD orienta o uso do TBS apenas em adultos com 40 anos ou mais, sendo preciso mais evidências sobre sua utilidade na população mais jovem.
Infelizmente, mesmo com o aumento da utilidade do TBS na prática clínica, este ainda é um exame que não está disponível em todos os locais, o que acaba limitando a avaliação adequada da massa óssea.